No texto, Barra Torres diz que, se o presidente tem informações que indiquem corrupções na Anvisa, para determinar uma investigação imediata. "Se o senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate", completa o presidente da agência reguladora.
Desde a aprovação da inclusão de crianças no público elegível para a vacinação contra Covid-19, Bolsonaro questiona o interesse por trás da imunização infantil. "O que está por trás disso? Qual o interesse da Anvisa por trás disso? Qual o interesse daquelas pessoas taradas por vacina? É pela vida? Pela saúde? Se fosse, estariam preocupados com outras doenças no país, mas não estão", declarou Bolsonaro nesta quinta-feira (6).
Em resposta às críticas de Bolsonaro, Barra Torres, que é médico e contra-almirante da Marinha, terceiro maior posto da corporação, diz ter pautado sua vida pessoal em "austeridade e honra" e sua vida profissional como médico procurando "manter a razão à frente do sentimento."
Barra Torres encerra a nota afirmando que estão combatendo o mesmo inimigo e que “ainda há muita guerra pela frente”. “Rever uma fala ou um ato errado não diminuirá o senhor em nada. Muito pelo contrário”, finaliza o diretor-presidente.
Leia a íntegra da nota de Antonio Barra Torres:
Em relação ao recente questionamento do Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, quanto à vacinação de crianças de 05 a 11 anos, no qual pergunta "Qual o interesse da Anvisa por trás disso aí?", o Diretor Presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, responde:
Senhor Presidente, como Oficial General da Marinha do Brasil, servi ao meu país por 32 anos. Pautei minha vida pessoal em austeridade e honra. Honra à minha família que, com dificuldades de todo o tipo, permitiram que eu tivesse acesso à melhor educação possível, para o único filho de uma auxiliar de enfermagem e um ferroviário.
Como médico, Senhor Presidente, procurei manter a razão à frente do sentimento. Mas sofri a cada perda, lamentei cada fracasso, e fiz questão de ser eu mesmo, o portador das piores notícias, quando a morte tomou de mim um paciente.
Como cristão, Senhor Presidente, busquei cumprir os mandamentos, mesmo tendo eu abraçado a carreira das armas. Nunca levantei falso testemunho.
Vou morrer sem conhecer riqueza Senhor Presidente. Mas vou morrer digno. Nunca me apropriei do que não fosse meu e nem pretendo fazer isso, à frente da Anvisa. Prezo muito os valores morais que meus pais praticaram e que pelo exemplo deles eu pude somar ao meu caráter.
Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, Senhor Presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu tenho o privilégio de integrar.
Agora, se o Senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate.
Estamos combatendo o mesmo inimigo e ainda há muita guerra pela frente.
Rever uma fala ou um ato errado não diminuirá o senhor em nada. Muito pelo contrário.
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
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