O ano de 2023 passou, mas deixou no Brasil uma marca desastrosa das mudanças climáticas. Temporais inundaram cidades no sul, ondas de calor atingiram o sudeste e na Bahia uma seca prolongada que bate recordes atrás de recordes. No estado, já são 147 municípios em situação de emergência e mais de 1,8 milhão de pessoas afetadas.
Para quem pensa que a seca sempre foi comum em algumas regiões do estado, o Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) confirma que nos últimos meses a Bahia tem experimentado algo ainda pior: é a maior estiagem desde a década de 1980. E a Superintendência de Proteção e Defesa Civil da Bahia (Sudec) afirma que não há sequer previsão para o fim dessa seca, que se concentra na região do semiárido. Uma das causas é a atuação do fenômeno El Niño, que é também o motivador das chuvas e das ondas de calor em outras regiões do país e tem a previsão de ficar ainda mais forte neste ano.
Presidente da Faeb (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia), Humberto Miranda contou ao Metro1 que o prejuízo com a seca na Bahia já alcançou a marca de R$ 600 milhões em relação ao ano anterior. “Um prejuízo significativo que vai interferir no PIB do estado”, afirmou ele.
De acordo com ele, já falta água para os animais. Foram registradas, nos últimos meses, milhares de mortes de cabeças de gado e significativas perdas na produção de frutas e milho, com impactos expressivos no Oeste baiano. Além disso, há ainda a preocupação com as queimadas. Só nas últimas semanas de 2023, 150 homens do Corpo de Bombeiro se dividiram em uma operação pelo estado para atuar em incêndios florestais. O mais recente foi no último sábado no Vale do Capão, na Chapada Diamantina.
Tudo isso traz impactos não só para o PIB do estado, mas também para a renda de pequenos produtores e para as mesas das famílias baianas. O dia a dia do agricultor Oswaldo Araújo de Lima Filho, de São Gonçalo dos Campos, é um exemplo de tudo isso. Na Fazenda Magalhães, ele faz o plantio de aipim, batata-doce, mandioca e amendoim. O que foi plantado durante o inverno, entre junho e agosto, já foi colhido. No entanto, o plantio realizado após esse período enfrenta dificuldades para se desenvolver devido às altas temperaturas
Redução na renda
“A maior necessidade para resolver essa situação é a expectativa da chuva, estamos aguardando a chuva”, afirmou Oswaldo. Ele não possui outro meio de irrigação e nem um poço para tentar solucionar os problemas da seca na propriedade, realidade que é comum a muitos outros produtores. Seu objetivo era expandir nos próximos anos seu plantio, mas agora, além do alto custo com insumos, equipamentos e mão de obra, ele enfrenta o obstáculo da falta de água.
Assim como outros agricultores, Oswaldo teme que, com a temperatura atual, não consiga colher o que plantou. “Quando temos chuva, a gente não perde tempo, lançamos a semente pela fé na terra. Porque no período de setembro, outubro e até novembro é trovoada. Só que as trovoadas esse ano não vieram para nossa região, a chuva que veio foi bem pouquinha, mas a trovoada esperada mesmo para encher os lagos, os barreiros, molhar bem a terra não caiu”, explicou Oswaldo, que do aipim faz farinha, massa, bolo e tira boa parte de seus sustento.
A previsão lógica de tudo isso é que os impactos nos plantios ultrapassem a fronteira da estiagem e cheguem aos preços dos supermercados e às mesas das famílias baianas.
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