Presidente envia reportagens na qual condenou arqui-inimigo dos israelenses por ignorar extermínio de judeus


Após a polêmica gerada com Israel pelas declarações em que compara o Holocausto cometido sob as ordens de Adolf Hitler ao genocídio de palestinos na Faixa de Gaza, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) resgatou críticas que fez no passado ao governo do Irã, justamente por negar a política de extermínio em massa de judeus praticada pela Alemanha Nazista na Segunda Guerra Mundial. 

A aliados, Lula encaminhou uma série de reportagens publicadas há cerca de 15 anos, nas quais condena a postura adotada pelo então presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad de descartar a existência do Holocausto. A crítica, feita em encontro pessoal entre os dois chefes de Estado, foi revelada à imprensa brasileira pelo principal assessor do presidente para assuntos diplomáticos, Marco Aurélio Garcia, durante a cúpula do G20 realizada nos Estados Unidos em setembro de 2009.

Segundo os relatos de Garcia aos jornalistas, Lula teria dito a Ahmadinejad na conversa reservada de ambos em Nova York que considerava um "erro muito grave" negar o Holocausto. O iraniano ponderou, ainda de acordo com a versão apresentada pelo assessor diplomático, que apenas criticava o fato de Israel utilizar a matança indiscriminada de judeus para justificar a repressão militar imposta pelo governo de Tel Aviv aos palestinos de Gaza e da Cisjordânia.

Em 27 de janeiro de 2010, Lula confirmou publicamente as críticas feitas a Ahmadinejad, ao discursar em Recife durante uma solenidade em memória as vítimas do Hocausto. "Mostrei ao presidente do Irã que é impossível negar o Holocausto, que 60 milhões de vidas foram perdidas na Segunda Guerra Mundial em combates de parte a parte, mas que os seis milhões de judeus não morreram em combate, foram exterminados", disse o petista na solenidade organizada na sinagoga Kahal Zur Israel.

Diante da crise gerada com o governo israelense, dos ataques da oposição e de críticas feitas até por aliados como o senador Jaques Wagner (PT) - que por ser judeu considerou um erro comparar as práticas de Hitler às ofensivas em Gaza -, Lula reagiu ao cerco por meio de postagem no X, o antigo Twitter, na qual rebate as tentativas de, segundo ele, distorcer o teor das declarações em que chamou de genocídio as ações contra a população palestina.

"Da mesma forma que eu disse quando estava preso que eu não aceitaria acordo para sair da cadeia e que eu não trocaria a minha liberdade pela minha dignidade, eu digo: não troco a minha dignidade pela falsidade. Eu sou favorável à criação do Estado Palestino livre e soberano. Que possa esse Estado Palestino viver em harmonia com o Estado de Israel", disparou Lula, em post publicado no último dia 23. 

"O que o governo do Estado de Israel está fazendo não é guerra, é genocídio. Crianças e mulheres estão sendo assassinadas. Não tentem interpretar a entrevista que eu dei. Leiam a entrevista e parem de me julgar a partir da fala do primeiro-ministro de Israel", emendou o presidente, ao se referir a Benjamin Netanyahu, premiê historicamente alinhado à extrema-direita israelense que enfrenta altos índices de impopularidade junto aos eleitores do próprio país.

Âncora da Rádio Metropole, o radialista Mário Kertész, que também é judeu, condenou a relação feita por Lula entre Israel e as práticas do nazismo, mas concordou com a avaliação do presidente sobre a barbárie cometida em Gaza. "Primeiro, eu acho que o presidente Lula cometeu um erro sério. Comparar Hitler, Holocausto, Hamas e Israel é completamente errado. Não tem nada a ver, é condenável. Foi errado, ponto", salientou Kertész em comentário feito na manhã da última terça-feira (20), durante o programa Jornal da Bahia no Ar

"O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, de extrema-direita, que estava sendo combatido dentro do país dele por multidões, aproveitou isso para se transformar em um grande espetáculo e com isso se fortalecer", acrescentou o radialista. "O que o governo de Israel faz agora é abominável. Qual é o objetivo? É defesa ainda? Foi atacado por um grupo de terroristas, terroristas sanguinários que cometeram crimes terríveis, sim. Israel vai lá e se defende. E agora, está fazendo o que? Qual é o objetivo? Acabar com o povo palestino?", emendou.

O resgate da posição contrária de Lula às tentativas de negar a existência do Holocausto tem como objetivo desmontar a artilharia dos adversários, que buscam utilizar a crise com o governo israelense para desgastá-lo. Especialmente, porque as críticas que fez foram dirigidas ao então líder máximo do Irã, arqui-inimigo, defensor da aniquilação total do Estado de Israel e acusado de ser o principal financiador dos terroristas do Hamas.